Via Vazia
"Descansa. O homem já se fez o escuro cego raivoso animal que pretendias"
23 março 2021
31 agosto 2014
Tinder e Reflexões
A internet é sem dúvidas um meio de muito potencial. Não apenas positivo, devemos pensar o que dela nos é negativo. As redes sociais existem com ou sem internet, mas cada dia estamos mais crentes que rede social é apenas o virtual, tanto que não é incomum a pressa em transformarmos pessoas que no dia a dia conhecemos em mais um amigo virtual.
O assunto é amplo, mas gostaria de me restringir um pouco mais a um aplicativo de celular. Quero refletir um pouco sobre o Tinder.
Confesso ter uma conta no Tinder e não vejo problema nisso, pela forma como uso e me exponho. Sim, Tinder é uma exposição. Mas, pensando bem, também nos expomos quando em qualquer lugar onde existam outras pessoas presentes , e o que faz diferença é a propaganda que fazemos de nós mesmos. Acho muito difícil pensar esta maneira de se expor. Como se expor em uma rede social que visa favorecer pessoas se encontrarem sem que por meio de estratégia de manipulação de sua própria imagem?
Não quero dizer apenas de algo físico quando digo de manipulação de imagem, digo de algo mais amplo. É impressionante a quantidade de descrições onde a formação acadêmica é usada, time de futebol e naturalidade são também alguns dos atributos usados em descrições, sem contar signos e que citações onde Clarice Lispector e Tati Bernadi são campeãs em receber autoria pelo texto. Nem fazia ideia de quem era Tati Bernardi e confesso que, ao escrever esta postagem, fui buscar algo dela e me deparei com este texto em seu blog, chamado Tinderelas (clique no título para ler no blog), e que muito diz daquilo que penso do Tinder.
Penso que podemos mesmo ter a atitude de meramente tratar as pessoas expostas no Tinder como mercadorias. Mas será que já fora do Tinder não fazemos isso a um certo tempo? As mulheres são a muito tempo tratadas como gostosas pelos homens, e isso não deve servir de desculpa para considerar como coisa natural. Na verdade, penso que tanto homens e mulheres se tratam como mercadorias, Rafael Primo ilustrou isso muito bem em seu curta-metragem Produto Descartável (clique no título para assistir). Temos nossas doses de machismo, com quais homens e mulheres ainda insistem a desenvolver suas relações afetivas, onde estamos impregnados de imagens daquilo que é atitude de um homem e de uma mulher (mulher deve fazer isso, homem deve ter aquilo). Nossos valores mais singulares são esmagados pelo que socialmente devemos valorizar e procurar obter em um homem e em uma mulher.
Sinceramente, não sei o que dizer a uma mulher a quem ocorreu match (quando as duas pessoas coincidem de dar like uma a outra), e isso é igual ao que me acontece quando falo com qualquer pessoa que não conheço. Acho bom quando uma pessoa não sabe o que dizer, merece desconfiança quem sabe exatamente o que dizer. Não faço entrevista de emprego, a pessoa diz aquilo que desejar dizer (coisas que gosta, o que pensa da vida, como é a experiência com o Tinder. Conversando desta forma é bastante comum me dizerem também de outras experiências que tiveram com outros matches, sendo muito recorrente me dizerem que a maioria dos caras escrevem pouco, muitos são tarados ou já vão de cara pedindo o whatsapp ou facebook.
Minha impressão é que as pessoas no Tinder buscam o impossível e esquecem que pessoas tem também suas próprias vontades, seus próprios desejos. Não existe pessoa que corresponda a todos os atributos que valorizamos, tio Freud nos ensinou isso a muito tempo.
O problema o Tinder não é o aplicativo, mas como seus usuários o utilizam. Minha principal impressão é que as pessoas não sabem conversar e na primeira diferença que não corresponde ao que elas idealizam, já se faz motivo para desfazer o match. O maior perigo desta atitude é a perda de vínculo verdadeiramente humano, porque o outro falha e nós também. Desculpamos nossas próprias falhas, mas o outro não queremos nem ao menos dá-lo meio de dizer como explica sua falha.
Ainda somos românticos... a diferença é que, neste discurso amoroso do contemporâneo, temos cada vez mais recursos que responsabilizamos por estarmos só.
O problema o Tinder não é o aplicativo, mas como seus usuários o utilizam. Minha principal impressão é que as pessoas não sabem conversar e na primeira diferença que não corresponde ao que elas idealizam, já se faz motivo para desfazer o match. O maior perigo desta atitude é a perda de vínculo verdadeiramente humano, porque o outro falha e nós também. Desculpamos nossas próprias falhas, mas o outro não queremos nem ao menos dá-lo meio de dizer como explica sua falha.
Ainda somos românticos... a diferença é que, neste discurso amoroso do contemporâneo, temos cada vez mais recursos que responsabilizamos por estarmos só.
13 abril 2013
A arte de ficar em cima do muro
Já fazia bastante tempo que não escrevia neste blog. Depois de todo o tempo desde a postagem que possível visualizar, fiz uma postagem na qual criticava ideias presentes em um perfil do Facebook, quanto ao #Orgulho Hétero. Resolvi apagar a postagem, depois de um debate decepcionante quanto a atual polêmica envolvendo o programa Pânico na TV, com Gerald Thomas e Nicole Bahls.
Desde que comecei estudar psicologia, em meu encontro com textos como "Cheguei até a encontrar travestis felizes" de Félix Guatarri, vi que pensar gênero não era algo tão simples. Resolvi apagar a postagem e qualquer outra coisa que tenha escrito antes quanto o assunto, pois fui confrontado com a acusação de ser mal informado. Pensei, anteriormente, que concordava com aquilo que o movimento feminista reivindica, achava que era uma questão de luta por igualdade, fui informado que não se trata disso exatamente.
Desde que comecei estudar psicologia, em meu encontro com textos como "Cheguei até a encontrar travestis felizes" de Félix Guatarri, vi que pensar gênero não era algo tão simples. Resolvi apagar a postagem e qualquer outra coisa que tenha escrito antes quanto o assunto, pois fui confrontado com a acusação de ser mal informado. Pensei, anteriormente, que concordava com aquilo que o movimento feminista reivindica, achava que era uma questão de luta por igualdade, fui informado que não se trata disso exatamente.
Vou ignorar todo o meu percurso, pois talvez por ser homem e heterossexual eu seja incapaz de compreender e me pronunciar ao assunto. Deixarei as reflexões deste assunto com feministas e movimentos de defesa aos direitos GLBT. Vou continuar estudando o assunto, escondido, mas não ousarei dizer qualquer coisa que pense sobre violência de gênero.
25 setembro 2012
O fim de um luto
Sentiu um estranho perfume. Era
calmo e confortante, ao mesmo tempo em que angustiante diante da incerteza do por
que o sentia. Seus olhos foram capazes de decifrar aquilo que seu coração
perdera o tato. Abateu-se, por um momento, ao perceber que aquele era o perfume
de heliotrópio e cidra. Apercebeu-se sentido ali o perfume de um amor a se
vivenciar perdendo antes mesmo de começá-lo, tal como escreveu Marguerite
Duras¹.
A doença da morte² – Suspeitava a
um tempo que a tivesse.
Já havia amado um dia, um amor
que se tornou um luto até aquele momento. A mulher diante de seus olhos, exalando
aquele odor fustigante, o arrebatou de sua inércia.
A morte é ainda é uma
possibilidade a ele, como é a todos: devemos a natureza uma morte³. Aquele
perfume dispersou a morte nele entranhada, não o sentiu novamente naquela
mulher, mas certamente foi através dela que o despertou para a vida e o
interesse de amar.
Notas:
1 - Escritora nascida na Indochina, hoje Vietnã. residindo na França escreveu diversas obras de teatro, livros, filmes.
2- A doença da morte: aquele que a tem não sabe que é portador dela, da morte. E também no fato de que ele morreria sem vida progressa dentro da qual morrer, sem conhecimento nenhum de morrer em vida nenhuma. - In: O homem sentado no corredor; A doença da morte: Marguerite Duras. Editora Cosacnaify. p.58
3- Referência a Shakespeare, que diz "deves uma morte à natureza" (In: O Nomeável e o Inominável - Maud Mannoni), em expressão semelhante Freud diz: "... cada um de nós deve a natureza uma morte e tem de estar preparado para saudar esta dívida..." (Sigmund Freud - Obras Completas, Vol 12 - Cia das Letras)
2- A doença da morte: aquele que a tem não sabe que é portador dela, da morte. E também no fato de que ele morreria sem vida progressa dentro da qual morrer, sem conhecimento nenhum de morrer em vida nenhuma. - In: O homem sentado no corredor; A doença da morte: Marguerite Duras. Editora Cosacnaify. p.58
3- Referência a Shakespeare, que diz "deves uma morte à natureza" (In: O Nomeável e o Inominável - Maud Mannoni), em expressão semelhante Freud diz: "... cada um de nós deve a natureza uma morte e tem de estar preparado para saudar esta dívida..." (Sigmund Freud - Obras Completas, Vol 12 - Cia das Letras)
10 agosto 2012
Encontros e Desencontros
Houve uma festa com a temática 7 pecados (Luxúria, Gula, Inveja, Ganância, Ira, Preguiça, Orgulho). Havia comida, bebida, pessoas interessantes... como se espera de uma boa festa. A casa de estilo rústico, espaçosa, favorecia o convite de todos sentirem-se a vontade. As músicas tocavam, bem diversificadas, sons para ninguém sair da festa sem arriscar-se em dançar ao menos um pouco e, aos mais empolgados, a possibilidade exibir performances não estava proibida.
Muitos são os que ele conhece na festa, alguns eram recém chegados dos quais lembrava alguns nomes. Como brincadeira, pela mera ocasião do tema, ele pergunta de vez em quando a uma ou outra pessoa qual pecado representava. Um amigo seu, um quase a todo tempo de festa sentado ao sofá, respondeu que era a preguiça. Quase todos respondiam, mesmo quando tinham ainda dúvidas do qual melhor representava, quase todos... exceto uma mulher com quem conversou bem espontaneamente, e ainda sem qualquer interesse em seduzir. Quando ele a perguntou seu pecado ali na festa, ela respondeu "- Não sei! Acho que nenhum!"
Muitos são os que ele conhece na festa, alguns eram recém chegados dos quais lembrava alguns nomes. Como brincadeira, pela mera ocasião do tema, ele pergunta de vez em quando a uma ou outra pessoa qual pecado representava. Um amigo seu, um quase a todo tempo de festa sentado ao sofá, respondeu que era a preguiça. Quase todos respondiam, mesmo quando tinham ainda dúvidas do qual melhor representava, quase todos... exceto uma mulher com quem conversou bem espontaneamente, e ainda sem qualquer interesse em seduzir. Quando ele a perguntou seu pecado ali na festa, ela respondeu "- Não sei! Acho que nenhum!"
Era difícil não notar uma mulher como aquela, de cabelos pretos e longos, cerca de 1,75m de altura, magra, com curvas que muitas mulheres desejariam ter em si naquelas proporções tão simétrícas àquele vestido. Ela não o atraiu logo de inicio, mesmo ele tendo nela reconhecido essa beleza bastante desejável por outros homens, ou mesmo mulheres. Os dois conversavam e a única coisa que ele realmente nela admirou inicialmente foi a inteligência. Não era o tipo de mulher a inquietá-lo, pois, curiosamente, preferia mulheres mais baixas e tão semelhantes umas as outras, tanto de rosto como corpo, que eram fáceis confundi-las dez como uma mesma mulher (é notável como homens são repetitivos).
Como num momento de clareza e, sem ele não soube o que havia a ele acontecido e nem como, tornou-se impaciente em ter a oportunidade de segurar aquele corpo e admirar aquele sorriso junto aos seus lábios. Talvez ela dizê-lo que iria embora da festa tenha causado a lucidez. Olhou para ela com reprovação, deixando explícito não querer naquele momento despedida. Aproximou-se ainda mais dela e, sem praticamente notar sua mão repousando suavemente a cintura dela, pediu a ela ficar um pouco mais. Ela tentou justificar que precisava ir embora, e foi preciso apenas ele pedir um vez que ela não fosse para que ela aceitasse ficar. Dançavam agora juntos e, em meio a música, ele a olha e aproxima seu rosto ao dela ainda mais, como quem vai roubar um beijo, mas, ao invés disso ele pergunta "- Você já sabe qual o pecado você é?". Para a sua surpresa ela responde, após um calmo e silencioso respirar, com as palavras"- Dada a situação, eu diria gula.".
07 agosto 2012
motivação
Aos livros ele olhava, como quem com fome estava diante da comida. Eram uma espécie de alimento que o faltava a sua alma - dizia ele. Pão não faltava a sua casa, mas livro era uma besteira que seus pais achavam desnecessária adquirir para além aos utilizados na escola.
Era um filho obediente mas teve de aprender a mentir aos seus pais, fazia isso para poder ir à biblioteca. Sua mãe ficou satisfeita quando ele disse que toda terça e quinta, entre 14hs e 17hs iria à igreja. A desculpa da igreja logo se tornou desnecessária, arrumou um bico como entregador de uma farmácia, ia pelo menos uma hora por dia à biblioteca. No fim da primeira quinzena de trabalho recebeu conforme o combinado, que juntando às gorjetas lhe deu muita satisfação e ao mesmo tempo um sentimento de impotência. Sabia que não podia comprar livros, praticar um esporte ou fazer um curso de idiomas, pois corria o risco de apanhar em casa só de voltar em insistir nisto (sim, já havia tentado convencer seus pais que tais coisas não eram futilidades).
Apenas depois de um ano e meio, quando terminou seu ensino fundamental já quase com 16 anos é que contou aos pais que precisou mentir a eles por tanto tempo. Não importava muito, pois ele havia conseguido passar ao Colégio Naval graças estas mentiras. Talvez um outro garoto contaria aos pais porque mentiu com a expressão de um certo desprezo mas, ao contrário daquilo a que se poderia imaginar, ele pediu desculpas e agradeceu seus pais por tê-lo ajudado em sua conquista.
Era um filho obediente mas teve de aprender a mentir aos seus pais, fazia isso para poder ir à biblioteca. Sua mãe ficou satisfeita quando ele disse que toda terça e quinta, entre 14hs e 17hs iria à igreja. A desculpa da igreja logo se tornou desnecessária, arrumou um bico como entregador de uma farmácia, ia pelo menos uma hora por dia à biblioteca. No fim da primeira quinzena de trabalho recebeu conforme o combinado, que juntando às gorjetas lhe deu muita satisfação e ao mesmo tempo um sentimento de impotência. Sabia que não podia comprar livros, praticar um esporte ou fazer um curso de idiomas, pois corria o risco de apanhar em casa só de voltar em insistir nisto (sim, já havia tentado convencer seus pais que tais coisas não eram futilidades).
Apenas depois de um ano e meio, quando terminou seu ensino fundamental já quase com 16 anos é que contou aos pais que precisou mentir a eles por tanto tempo. Não importava muito, pois ele havia conseguido passar ao Colégio Naval graças estas mentiras. Talvez um outro garoto contaria aos pais porque mentiu com a expressão de um certo desprezo mas, ao contrário daquilo a que se poderia imaginar, ele pediu desculpas e agradeceu seus pais por tê-lo ajudado em sua conquista.
17 maio 2012
Moralismo X Saúde
A política de redução de danos é uma direção de tratamento que qualquer profissional de saúde deve conhecer, ainda que por motivos pessoais não concorde. Há outras diversas políticas de tratamento diretrizes que profissionais de saúde não consideram adequados, na saúde mental se tem hoje a ênfase pela atenção psicossocial a direção de trabalho com pessoas que sofrem de transtornos mentais, isso não exclui existir defensores da direção manicomial existirem, mas é certo que a opinião pessoal não poder ser exclusiva e transgressora às políticas públicas.
Em uma matéria sensacionalista, que claramente desconhece ou preferiu ignorar toda a discussão em torno do tratamento em saúde pública aos casos de álcool e outras drogas, o jornalista Francisco Edson Alves, do jornal O Dia, foi bastante infeliz em seu dever ético como jornalista ao escrever a matéria Saúde Defende a Maconha.
O código de ética profissional, conforme pode ser acessado pela FENAJ, atribui para a conduta do jornalista no Art. 4º "O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos,
deve pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação."
Ao livro Toxicomanias: incidências clínicas e socioantropológicas o jornalista escreve em tom de crítica: "Já na página 248, uma ‘dica’ inusitada e perigosa: “... 100 gramas de maconha podem ser considerados uma quantidade razoável para um usuário diário”. Sua postura diante trabalho dos autores é o que distorção daquilo que se debate no texto "O usuário de drogas", no subtítulo "Critérios para identificação do usuário". O que os autores estão debatendo não é a quantidade de drogas que um usuário é recomendado usar, os autores estão debatendo a identificação deste usuário ao invés de prontamente criminalizá-lo em igualidade ao traficante. Tentando preservar aquilo que os autores diziam, é bem diferente alguém que tem em posse 100 gramas de maconha e alguém que tem 100 gramas de cocaína.
É merecedor de repúdio uma leitura tão leviana como a do jornalista, sua atitude irresponsável com a informação é de apropriar seus leitores a reforçar seus preconceitos ao invés de propiciá-los uma inserção ao debate em questão. A redução de danos é uma direção de trabalho em saúde, não é apenas algo apenas no Brasil discutida, outros países. Também é leviano reputar apenas o jornalista promover aos seus leitores uma opinião tão ignorante e distorcida dos fatos, o jornal O Dia é ainda mais merecedor de repúdio que o jornalista.
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