A internet é sem dúvidas um meio de muito potencial. Não apenas positivo, devemos pensar o que dela nos é negativo. As redes sociais existem com ou sem internet, mas cada dia estamos mais crentes que rede social é apenas o virtual, tanto que não é incomum a pressa em transformarmos pessoas que no dia a dia conhecemos em mais um amigo virtual.
O assunto é amplo, mas gostaria de me restringir um pouco mais a um aplicativo de celular. Quero refletir um pouco sobre o Tinder.
Confesso ter uma conta no Tinder e não vejo problema nisso, pela forma como uso e me exponho. Sim, Tinder é uma exposição. Mas, pensando bem, também nos expomos quando em qualquer lugar onde existam outras pessoas presentes , e o que faz diferença é a propaganda que fazemos de nós mesmos. Acho muito difícil pensar esta maneira de se expor. Como se expor em uma rede social que visa favorecer pessoas se encontrarem sem que por meio de estratégia de manipulação de sua própria imagem?
Não quero dizer apenas de algo físico quando digo de manipulação de imagem, digo de algo mais amplo. É impressionante a quantidade de descrições onde a formação acadêmica é usada, time de futebol e naturalidade são também alguns dos atributos usados em descrições, sem contar signos e que citações onde Clarice Lispector e Tati Bernadi são campeãs em receber autoria pelo texto. Nem fazia ideia de quem era Tati Bernardi e confesso que, ao escrever esta postagem, fui buscar algo dela e me deparei com este texto em seu blog, chamado Tinderelas (clique no título para ler no blog), e que muito diz daquilo que penso do Tinder.
Penso que podemos mesmo ter a atitude de meramente tratar as pessoas expostas no Tinder como mercadorias. Mas será que já fora do Tinder não fazemos isso a um certo tempo? As mulheres são a muito tempo tratadas como gostosas pelos homens, e isso não deve servir de desculpa para considerar como coisa natural. Na verdade, penso que tanto homens e mulheres se tratam como mercadorias, Rafael Primo ilustrou isso muito bem em seu curta-metragem Produto Descartável (clique no título para assistir). Temos nossas doses de machismo, com quais homens e mulheres ainda insistem a desenvolver suas relações afetivas, onde estamos impregnados de imagens daquilo que é atitude de um homem e de uma mulher (mulher deve fazer isso, homem deve ter aquilo). Nossos valores mais singulares são esmagados pelo que socialmente devemos valorizar e procurar obter em um homem e em uma mulher.
Sinceramente, não sei o que dizer a uma mulher a quem ocorreu match (quando as duas pessoas coincidem de dar like uma a outra), e isso é igual ao que me acontece quando falo com qualquer pessoa que não conheço. Acho bom quando uma pessoa não sabe o que dizer, merece desconfiança quem sabe exatamente o que dizer. Não faço entrevista de emprego, a pessoa diz aquilo que desejar dizer (coisas que gosta, o que pensa da vida, como é a experiência com o Tinder. Conversando desta forma é bastante comum me dizerem também de outras experiências que tiveram com outros matches, sendo muito recorrente me dizerem que a maioria dos caras escrevem pouco, muitos são tarados ou já vão de cara pedindo o whatsapp ou facebook.
Minha impressão é que as pessoas no Tinder buscam o impossível e esquecem que pessoas tem também suas próprias vontades, seus próprios desejos. Não existe pessoa que corresponda a todos os atributos que valorizamos, tio Freud nos ensinou isso a muito tempo.
O problema o Tinder não é o aplicativo, mas como seus usuários o utilizam. Minha principal impressão é que as pessoas não sabem conversar e na primeira diferença que não corresponde ao que elas idealizam, já se faz motivo para desfazer o match. O maior perigo desta atitude é a perda de vínculo verdadeiramente humano, porque o outro falha e nós também. Desculpamos nossas próprias falhas, mas o outro não queremos nem ao menos dá-lo meio de dizer como explica sua falha.
Ainda somos românticos... a diferença é que, neste discurso amoroso do contemporâneo, temos cada vez mais recursos que responsabilizamos por estarmos só.
O problema o Tinder não é o aplicativo, mas como seus usuários o utilizam. Minha principal impressão é que as pessoas não sabem conversar e na primeira diferença que não corresponde ao que elas idealizam, já se faz motivo para desfazer o match. O maior perigo desta atitude é a perda de vínculo verdadeiramente humano, porque o outro falha e nós também. Desculpamos nossas próprias falhas, mas o outro não queremos nem ao menos dá-lo meio de dizer como explica sua falha.
Ainda somos românticos... a diferença é que, neste discurso amoroso do contemporâneo, temos cada vez mais recursos que responsabilizamos por estarmos só.
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