03 novembro 2007

08 outubro 2007

Todas as mulheres do mundo

Sinopse: Esta envolvente comédia de costumes dirigida por Domingos Oliveira, mesmo realizador de Amores, relata a trajetória de Paulo (Paulo José), bon vivant que vive paquerando as belas mulheres da zona sul carioca. Mas este sedutor profissional acaba encontrando o amor ao cruzar com Maria Alice, jovem professora vivida por Leila Diniz. A narrativa é feita a partir de uma conversa entre Paulo e seu amigo Edu (Flávio Migliaccio). Por meio de flash-backs, Paulo conta sobre seu relacionamento com Maria Alice, desde que a conheceu numa festa de Natal, em seu apartamento. Ao ver a moça pela primeira vez, Paulo imediatamente se apaixona e faz de tudo para conquistá-la, apesar de ela estar acompanhada do noivo. Também enfrenta o conflito de desistir de todas as mulheres do mundo para viver com uma só. Mas não se arrepende: Maria Alice é uma mulher sensual, inteligente, alegre, sincera, carinhosa e ótima amante. O roteiro aborda os conflitos existentes, na década de 60, entre os velhos e novos papéis sociais femininos e masculinos. Grande sucesso de crítica e público, o filme é baseado no relacionamento de Domingos Oliveira e Leila Diniz, que por seu desempenho ganhou o Prêmio Air France de 1967.




Trata-se de um filme de 1967 e isso me faz sentir um pouco mais velho? Não... arte não é feita nunca exatamente para sua própria geração... mas nem é pela arte que me causa admiração esnte filme e sim porque diz respeito a uma coisa extremamente simples e ao mesmo tempo complicada de entender principalmente pelas mulheres, mas não somente por elas porque nós não sabemos também o porquê acontece de em algum momento desejarmos tanto uma mulher a ponto de nos abdicar de ter todas as mulheres para ter apenas uma e a essa voltar todo desejo que antes era para todas.

Mas não é qualquer uma que se compara a uma Leila Diniz...

02 outubro 2007

Noruega

"Minha realidade, este inverno, é feita de muitas coisas. Até isto: acordo de um cochilo. O avião aproxima-se de uma cidade. O sol se põe atrás de altas montanhas. Bem lá embaixo, as luzes se acendem em milhares de janelas e anúncios. Por um momento, não consigo lembrar para onde estou indo. As cidades se parecem tanto quanto os aviões que para elas me levam. É inquietante que o lugar para onde a pessoa vai tenha tão pouca importância. As mesmas mulheres e os mesmos homens estarão à espera junto às mesmas portas e exclamarão idênticas palavras de boas-vindas, quando me avistarem. Pessoas oferecendo flores e gentilezas, mas com uma pressa louca de me empurrarem para dentro de um carro e me levarem até algum hotel de luxo, no qual poderão abandonar-me e ir para casa, viver suas próprias vidas. Uma suíte com saleta e quarto, macias poltronas estofadas em seda, janelões que dão para uma piscina rodeada de palmeiras.
Champanha e gelo, com os cumprimentos da gerência. Flores e cestas de frutas. O pessoal da portaria curvando-se, ao entrar e sair com minha bagagem, minhas cartas e meus recados telefônicos. Sorrisos e gentilezas e toda a irrealidade de que se revestem.
Enquanto eu sorrio, entusiasticamente, e agradeço."
(Trecho do livro "Mutações" de Liv Ullmann)

17 agosto 2007

Inocência

Os homens não nos entendem, eles dizem que nós somos difíceis de entender - e isso é uma verdade - mas se eles compreendessem esta afirmação que fazem de nós mulheres haveriam eles maior proximidade a nossa alma. Existe poesia em cada uma de nós mulheres, e poesia é inspiração, é contato com recriação de uma realidade imaginária ou existente mas modificada no encontro com cada palavra que escrita nos encadeamentos daquilo que chamamos de intimidade ou apenas do ansear proximidade do que nos parece belo.
Enquanto a um homem palavras são palavras mesmas em seu significado, para nós mulheres as palavras depedem de quem nos fala, dependem aquilo que sentimos, daquilo que queremos. Não existem formas já prontas... as palavras mais sujas podem nos ser as palavras mais belas que nenhum poeta em sua mais forte inspiração nos foi capaz de causar ardor, se forem proferidas tais palavras pela pessoa que nossas pernas tremem com o mais leve sussurrar e qual um beijo faz a consciência sumir deste mundo de penas levando a prazer cândido e perene. Aos homens também falta compreender que palavras bonitas serão apenas ouvidas se nos interessarmos, e certas vezes leva tempo para permitirmos ouvir- mais tempo que a maioria dos homens se permitem esperar.
Não preciso me alongar em dizer que não compreendo também os homens, pois eles desistem de nos cobiçar com a mais suave oportunidade que os aparecem de tocar o corpo de outra mulher. Como eles são capazes de não se questionarem? Se uma homem fosse escrever os sentimentos de uma mulher sua maior dificuldade talvez seria de não ser antiguado, quase parecendo meu bisavô, com a idéia por exemplo de uma mulher que almeja por quem a trate como única e que a faça sonhar acordada, suspirar. Ou simplesmente algo como alguém capaz de não envergonhar-se frente aos amigos em dizer "-É aquela quem me desperta a mais forte timidez, me faz sumir as palavras, mas que um dia farei meus lábios juntos ao dela, alguém que me fará esquecer o futebol com vocês!". A verdade é aquela que dita antes... não existe forma... mas queremos atitude, gostamos de quem sabe valorizar aquilo que quer, que luta por conseguir algo valioso de fato...
... e as reticências... elas são a melhor forma de denotar nós mulheres... pois não falam tudo...

por: A. O

14 agosto 2007

Toi et moi


Você e eu (França, 2006)

De Julie Lopez-Corval. Com Chantal Lauby, Eric Berger, Jonathan Zaccai, Julie Depardieu, Marion Cotillard. Comédia dramática, Romance em Cores. Duração 90’. Classificação etária livre.



Sinopse: Redatora de foto-novela para a revista "Você e eu", Ariane tende a escrever sua vida amorosa e a de sua irmã Lena, reinventando um pouco. No entanto, suas vidas não tem nada de novela: Ariane fica presa ao Farid que não se interessa por ela, e Lena está entediada com seu namorado, François.
Mas, se Ariane se entregasse ao amor de Pablo, o belo operário que trabalha no prédio? E se Lena se apaixonasse por Mark, o violinista prodígio que acaba de encontrar? Entre realidade e foto-novela, as duas irmãs encontrarão o grande amor?

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A primeira vista tem tudo para ser um filminho "água com açúcar", é um filme simples mas que também faz pensar nossas ingenuidades, nossas acomodações, e a força que uma simples decisão oferece-nos sortes inesperadas.
Até qual ponto vivenciamos não a vida mas a vontade de uma ficção, de uma novela? A vida não é técnica... "se você usa apenas técnica você faz pornografia..." - diz o personagem - "... mais que a técnica está a entrega...".
Entregar-se é talvez a maior dificuldade, dificuldade cotidiana seja nas desculpas que inventamos para não dar sinal de desejo, seja por achar que sabe o que quer, seja porque existe o medo...

21 julho 2007

Cartas a um jovem poeta

(Tradução: Paulo Rónai e Cecília Meireles)


Roma, 14 de maio de 1904.

Meu caro Sr. Kappus,


Decorreu muito tempo desde que recebi a sua última carta. Não me guarde rancor por isto; trabalho, incômodos e indisposições impediram-me de dar-te uma resposta. Queria que esta lhe viesse de dias tranqüilos e bons. Agora me sinto outra vez um pouco melhor (o começo da primavera fez sentir bastante, também aqui, suas transições malignas e caprichosas,) e venho cumprimentá-lo, caro Sr. Kappus, e (o que faço com tanto gosto) dizer-lhe, o melhor que posso, algumas coisas a respeito de sua carta.
Como vê, copiei o seu soneto(*) por achá-lo belo e simples e porque nasceu numa forma em que se move com tão discreta correção. Dos versos seus que tenho lido são estes os melhores. Venho agora oferecer-lhe esta cópia, porque sei como é importante e cheio de novas experiências rever um trabalho próprio copiado pela mão de outrem. Leia os versos como se fossem de outra pessoa e no fundo da alma há de sentir como são seus.
Foi uma alegria para mim reler várias vezes o soneto e a carta, agradeço-lhe ambos.
Não se deve deixar enganar em sua solidão, por existir algo em si que deseja sair dela. Justamente tal desejo, se dele se servir tranqüila e sossegadamente como de um instrumento, há de ajudá-lo a estender a sua solidão sobre um vasto território. Os homens com o auxílio das convenções, resolveram tudo facilmente e pelo lado mais fácil da facilidade; mas é claro que nós devemos agarrar-nos ao difícil. Tudo o que é vivo se agarra a ele, tudo na natureza cresce e se defende segundo a sua maneira de ser; e faz-se coisa própria nascida e contra qualquer resistência. Sabemos pouca coisa, mas que temos de nos agarrar ao difícil é uma certeza que não nos abandonará. É bom estar só, porque a solidão é difícil. O fato de uma coisa ser difícil deve ser um motivo a mais para que seja feita.
Amar também é bom: porque o amor é difícil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e última prova, a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação. Por isso, pessoas jovens que ainda são estreantes em tudo, não sabem amar: tem que aprendê-lo.
Com todo o seu ser, com todas as suas forças concentradas em seu coração solitário, medroso e palpitante, devem aprender a amar. Mas a aprendizagem é sempre uma longa clausura. Assim, para quem ama, o amor , por muito tempo e pela vida afora, é solidão, isolamento cada vez mais intenso e profundo. O amor antes de tudo, não é o que se chama entregar-se, confundir-se, unir-se a outra pessoa. Que sentido teria com efeito, a união com algo não esclarecido, inacabado, dependente? O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo em si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de outro ser; é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha e um chamado para o longe. Do amor que lhes é dado, os jovens deveriam servir-se unicamente como de um convite para trabalhar em si mesmos (“escutar e martelar dia e noite”). A fusão com outro, a entrega de si, toda a espécie de comunhão não são para eles (que deverão durante muito tempo ainda juntar muito, entesourar); são algo de acabado para o qual . talvez, mal chegue atualmente a vida humana.
Aí está o erro tão grave e freqüente dos jovens: eles – cuja natureza comporta o serem impacientes – atiram-se uns aos outros quando o amor desce sobre eles e derrramam-se tais como são com seu desgoverno, sua desordem, sua confusão. Que acontecerá pois? Que poderá fazer a vida desse montão de material estragado a que eles chamariam felicidade? Que futuro os espera? Cada um se perde por causa do outro e perde ao outro e muitos outros que ainda queriam vir. Perde os longes e as possibilidades, troca o aproximar-se e o fugir de coisas silenciosas e cheias de sugestões por uma estéril perplexidade de onde nada de bom pode vir, a não ser um pouco de enjôo, desilusão e empobrecimento. Depois procuram salvar-se, agarrando-se a uma das muitas convenções que se oferecem como abrigos para todos nesse perigoso caminho. Nenhum terreno da experiência humana é tão cheio de convenções como este. Há nele uma profusão de cintos salva-vidas, canos e bexigas natatórias, toda a espécie de refúgios preparados pela opinião que, inclinada, a considerar a vida amorosa um prazer, teve de torná-la fácil, barata, sem perigos e segura como os prazeres do público.
No entanto, muitos jovens que amam erradamente, isto é, entregando-se simplesmente sem manterem a sua solidão – e a média fica sempre nisso - , sentem o peso opressivo do erro cometido e gostariam de, à sua maneira, tornar vivedouro e fértil o estado de coisas a que se vêem reduzidos. A sua natureza lhes diz que as questões do amor não podem , menos ainda do que qualquer outra importante, ser resolvidas em comum, conforme um acordo qualquer; que são perguntas feitas diretamente de um ser humano para outro, que em cada caso exigem outra resposta, específica, estritamente pessoal. Mas como podem eles, que já se atiraram uns aos outros e não mais se delimitam nem se distinguem, quer dizer, que nada mais possuem de seu, encontrar uma saída em si mesmos, no fundo de sua solidão já derramada?(...)
Rainer Maria Rilke
Páginas 54, 55, 56 e 57 da 17ª edição – Editora Globo
O soneto ao qual o poeta se refere, está traduzido e publicado na mesma edição página 77.

07 julho 2007

Próximo a decisão...

Pensei em flores ao ver-te...
Tenho imobilizado o pensamento
procurando-na em toda parte,
mesmo quando não tento.

E já nem tento como antes me esconder
ou não consigo. Com felicidade tão extremada
aceno-te, sem preocupar-me nada...
atentando apenas em a alma obedecer.

Arrepio-me em te lembrar
o rosto, o sorriso, o acenar
por quais suspiro e trazem o desejar.

Sorvo-te em tua sensibilidade
tão cândida, que nada mais me faz aspirar

senão de em seus lábios tocar.

Malvados



*Tirinha dos Malvados*



01 julho 2007

Hilst

"Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada."


Estou com saudades de ler Hilda Hilst e o modo que ela toma o desejo, falando dele como nenhum homem poderia dizer e como poucas mulheres tem a ousadia de assumir. Arriscaria a dizer muito mais, contudo Hilst se faz suficiente para dizer o que escreve quando lê-se sua obra.


"Aquele Outro não via minha muita amplidão
Nada LHE bastava.
Nem ígneas cantigas.
E agora vã, te pareço soberba, magnífica
E fodes como quem morre a última conquista
E ardes como desejei arder de santidade.
(E há luz na tua carne e tu palpitas.)
Ah, por que me vejo vasta e inflexível
Desejando um desejo vizinhante
De uma Fome irada e obsessiva?"

17 junho 2007

Mulheres modernas

E afinal, de que importa se ele chegar a me amar? – Perguntava ela a si mesma, como quem procura se convencer de alguma coisa – Pois afinal, nós mulheres de hoje somos conquistadoras, mulheres de atitude que venceu o comodismo que tinham as nossas avós. É essa a nossa resposta aos homens galinhas, pois não mais somos dóceis objetos de coleção dos homens ou amuleto, temos a liberdade de escolher, temos a capacidade seduzir sem necessariamente ter paixão.
Nossos corpos, nossas vozes, nosso olhar, são mais perigosos aos homens que eles podem imaginar, pois cada item de nossa sedução exibe um quê de inocência e caridade, e porque não dizer de esperança? Podemos mentir ao mais feio dos homens, e por mais óbvia que seja a mentira ele preferirá acreditar em nossas palavras que no espelho que se vê todos os dias. A suavidade de nossa pele, seu leve calor e seu fresco aroma encontram-se na natureza apenas em nosso corpo e é em contato com este que seus corpos ardem em tentação, mas também em nosso direito de dizer não em nos tocar que eles se fazem o mais frágil, o mais pobre dos seres.
Temos poder! Podemos até ganhar menos que eles para o mesmo trabalho, mas sabemos que se for de nosso querer nem precisamos dividir as contas. Não precisamos experimentar o toque de um único homem na esperança de sê-lo aquele nosso ideal, afinal todos os homens querem apenas o sexo que podemos dá-los, seja pelo prazer do coito mas também o de falar aos amigos, e mal sabem eles como nós mulheres também conversamos este mesmo assunto e somos honestas em dizer se foi bom ou ruim e contamos isso em detalhes. Mas se há uma coisa onde reside nosso poder sobre os homens, este está em deixá-los completamente perdidos, sem conseguir imaginar o porquê de nossas atitudes e palavras, de fazer com que eles possam até quando certos estar errados, de os obrigar em fazer coisas que nunca pensariam em fazer se não fosse a necessidade de conseguir nossa atenção.

16 junho 2007

Bêbado

XII

O planeta seguinte era habitado por um bêbado. Esta visita foi muito curta, mas mergulhou o principezinho numa profunda melancolia.


- Que fazes ai? perguntou ao bêbado, silenciosamente instalado diante de uma coleção de garrafas vazias e uma coleção de garrafas cheias.
- Eu bebo, respondeu o bêbado, com ar lúgubre.
- Por que é que bebes? perguntou-lhe o principezinho.
- Para esquecer, respondeu o beberrão.
- Esquecer o quê? indagou o principezinho, que já começava a sentir pena.
- Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a cabeça.
- Vergonha de quê? investigou o principezinho, que desejava socorrê-lo.
Vergonha de beber! concluiu o beberrão, encerrando-se definitivamente no seu silêncio.
E o principezinho foi-se embora, perplexo.
As pessoas grandes são decididamente muito bizarras, dizia de si para si, durante a viagem.

[Retirado do livro "O pequeno Príncipe" de Antoine de Saint-Exupéry]

15 junho 2007

Deu no Jornal




Sinopse: Um solitário e seu jornal.

Gênero: Animação; Diretor: Yanko del Pino; Ano: 2005;
Duração: 3 min; Cor: Colorido; Bitola: vídeo; País: Brasil

14 junho 2007

Louco

Dois loucos no bairro
um passa os dias
chutando postes para ver se acendem
o outro as noites
apagando palavras
contra um papel branco
todo bairro tem um louco
que o bairro trata bem
só falta mais um pouco
para eu ser tratado também
Paulo Leminski

26 maio 2007

...

Quem nasce com coração?
Coração tem que ser feito.
Ja tenho uma porção
Me infernando o peito.

Com isso ninguém nasça.
Coração é coisa rara,
Coisa que a gente acha
E é melhor encher a cara.


Caprichos e Relaxos - Paulo Leminski

29 abril 2007

Asas do Desejo

[Ele no balcão. Ela chega e ele ainda de costas a ela. Ele vira-se dá o copo em sua não qual ela toma de um gole e o devolve. Ele coloca o copo ao balcão e tenta aproximar o rosto ao dela. Ela coloca a mão ao seu peito distanciando-o...]

Daí ela diz:

- Deixe a coisa ficar mais séria.
Estive só um tempo mas nunca vivi sozinha. Quando estava com alguém se sentia feliz.
[silêncio]
Mas ao mesmo tempo tudo parecia ser coincidência. Essas pessoas eram meus pais mas poderiam ter sido outras. Porque este rapaz de olhos marrons é meu irmão e não aquele de olhos verdes no outro lado da plataforma? A filha do motorista de taxi era minha amiga. Mas poderia ter perfeitamente colocado meu braço em torno do pescoço de um cavalo.
Estive com um homem enamorada. Poderia tê-lo deixado de lado e partido com um estranho.
Olhe para mim ou não.
Me dê sua mão ou não.
Não me dê sua mão.
Olhe para lá.
Hoje é noite de lua nova, que noite de paz...
... sem derrame de sangue na cidade.
Nunca brinquei com alguém. Nunca abri meus olhos e disse: Agora é sério. Cresci. Era o único que não era sério? Os nossos tempos é que não são sérios.
Nunca estive só, nem sozinha, nem com outros. Gostaria de ficar só. Solidão significa: Finalmente sou um todo.
Agora posso afirmá-lo, pois finalmente estou só. Tenho que parar com as coincidências.
[suspiro]
A lua nova das decisões.
Não sei se existe destino, mas aqui está uma decisão!
Decida!
Nós agora somos o tempo.
Não só toda a cidade, mas o mundo todo está tomando parte da nossa decisão.
Nós somos mais que dois.
Encarnamos algo. Estamos no lugar dos outros e tudo está cheio de gente que está sonhando o mesmo sonho. Estamos decidindo o jogo dos outros!
Estou pronta!
Agora é sua vez.
Pegue o jogo em suas mãos.
Agora ou nunca!
Você precisa de mim!
Você vai precisar de mim!
Não existe história maior que a nossa...
... a de um homem e uma mulher.
Será uma uma história de gigantes. Invisível, transponível. A história de novos ancestrais.
Veja, meus olhos são o retrato da necessidade do futuro de cada um no lugar.
Ontem a noite sonhei com um estranho...
... com meu homem.
Só com ele posso ficar a sós... me abrir para ele. Recebê-lo inteiramente. Envolvê-lo num labirinto de felicidade a dois.
Sei que é você.

(Fala transcrita do filme "Asas do desejo" de Wim Wenders de 1987)

Produto Descartável





Sinopse: Dois vizinhos que se desejam lutam contra os estereótipos que criaram para si mesmos. Uma divertida comédia urbana, repleta de clichês nos quais todos se posicionam como verdadeiros produtos descartáveis. Sexo, nudez e violência - tudo o que você sempre quis ver em um único filme.

Gênero Ficção Diretor Flávia Rea, Rafael Primo Elenco: Bárbara Paz, Rafael Primo Ano 2003 Duração 16 min Cor Colorido

28 abril 2007

Quero um amor para as estações frias

No esforço da guerra,
tiro para todos os lados,
simpatia e falas forçadas,
meu Deus, e, até agora, nada.

Uma eu já comi,
outra eu já peguei;
outras sempre quis
e o que sobrou eu já chutei.


Mas pooorra!... Agora, agooora,
no frio cadente do outono,
ninguém pra me dar bola?

Aaaahhh... Pra dar bola tem de sobra,

mas no fim da história, quem sobra sou eu.
Ado, ado, ado, vai tomá no cu.

Por Daniel, em homenagem a Paola

26 abril 2007

A Piedade

Eu urrava nos poliedros da Justiça meu momento
abatido na extrema paliçada
os professores falavam da vontade de dominar e da
luta pela vida
as senhoras católicas são piedosas
os comunistas são piedosos
os comerciantes são piedosos
só eu não sou piedoso
se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria
aos sábados à noite
eu seria um bom filho meus colegas me chamariam
cu-de-ferro e me fariam perguntas: por que navio
bóia? por que prego afunda?
eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as
estátuas de fortes dentaduras
iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos
pederastas ou barbudos
eu me universalizaria no senso comum e eles diriam
que tenho todas as virtudes
eu não sou piedoso
eu nunca poderei ser piedoso
meus olhos retinem e tingem-se de verde
Os arranha-céus de carniça se decompõem nos
pavimentos
os adolescentes nas escolas bufam como cadelas
asfixiadas
arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através
dos meus sonhos


Poema de Roberto Piva - Paranóia (1963)

22 abril 2007

Singularidade

"...
Quando entrou no restaurante, sentou-se em seu lugar de costume e olhou para mim. Nossos olhos se encontraram. A próxima coisa que percebi foi ele soltando um grito incrível, que me gelou até os ossos, e a todos os presentes. Todos olharam para mim, com os olhos arregalados, alguns ainda com a boca cheia de comida. Obviamente eles pensaram que eu havia gritado. Eu já havia aberto um precedente quando soquei o balcão e ri alto. O homem pulou do banco e saiu correndo do restaurante, voltando-se para me olhar enquanto fazia gestos agitados com suas mãos sobre a cabeça.
Não resisti a um forte impulso e corri atrás do homem. Queria que ele me dissesse o que vira em mim para fazê-lo gritar. Alcancei-o no estacionamento e perguntei-lhe por que gritara. Cobriu os seus olhos e gritou novamente, ainda mais alto. Era como uma criança amedrontada por um pesadelo, gritando a plenos pulmões. Deixei-o e voltei ao restaurante.
- O que houve com você meu querido? - a garçonete perguntou com um ar preocupado. - pensei que tivesse saído correndo de mim.
- Apenas fui ver um amigo – disse eu.
- Aquele cara é seu amigo? – perguntou ela.
- O único amigo que tenho no mundo – disse, e era verdade, se eu pudesse definir “amigo” como alguém que vê através da aparência, da camada superficial que cobre você, e sabe de onde você realmente vem."


Trecho do livro "O Lado Ativo do Infinito" de Carlos Castañeda

Dizeres íntimos

É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento da Saudade!

E logo vou olhar ( com que ansiedade!... )
As minhas mãos esguias, languescentes,
De brancos dedos, uns bebés doentes
Que hão-de morrer em plena mocidade!

E ser-se novo é ter-se o Paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!

E os meus vinte e três anos...( Sou tão nova ! )
Dizem baixinho a rir: - [ Que linda a vida !... ]
Responde a minha Dor: - [ Que linda a cova! ]

Poema de Florbela Espanca

21 abril 2007

Manual para atropelar cachorro



Sinopse: De onde vem a maldade humana? O que leva alguém a cometer atos de crueldade? O mundo visto por uma mente doente, enlouquecida em uma cidade grande qualquer. Síndromes Urbanas.

Ficção De Rafael Primo 2006 18 min
Com Zezé Polessa, Ary França, Bárbara Paz, Rafael Primo, Cynthia Falabella, Tuna Dwek, Rubens Ewald Filho, Rodrigo Frampton

20 abril 2007

E por que havias de querer...

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
Poesia de Hilda Hilst

15 abril 2007

A História da Eternidade





Sinopse: A História da Eternidade é um falso plano-sequência que pretende conduzir o espectador a uma viagem dentro dos instintos humanos, através de uma linguagem poética e metafórica. Acontecimentos que representam um amplo panorama da civilização ocidental e tudo que o ser humano é capaz, desde trucidar seu semelhante brutalmente até inventar a arte para libertar os sonhos estão presentes neste exercício visceral que expõe, sem concessões, a eterna tragédia humana.
Gênero: Experimental - Duração 10 min (2003)

14 abril 2007

Espera ou procura?

Em noite calma resta silêncio
nenhum som audível, nenhum...
Mas resta os pensamentos,
sufocantes, as vezes delirantes.

Caminho sem ter onde ir,
volto sem ter onde chegar.
Pego em um livro e só...
Não encontro concentração.

E o tempo corre, não esqueço!
Prioridades se confundem,
e nada, nada flui como deve.

Desejo água? Ou quero fogo?
Vivo na terra? ou flutuo no ar?
Cansei de poucos elementos...

08 abril 2007

Estrada




Sinopse: Episódio da série A Felicidade É... Dois casais amigos, vivendo um raro momento de felicidade, tomam a estrada em direção à serra para passar o que promete ser o feriadão ideal. Um caminhoneiro, vivendo seu inferno astral, tem que entregar uma encomenda numa cidade distante, com seu caminhão velho e sem freios, e voltar correndo para um insuportável compromisso doméstico. Num breve futuro, estes dois caminhos vão terminar se cruzando. Mas quem acredita em Destino?

30 março 2007

Distração

Sem muita paciência para escrever, mas também não vejo motivo de escrever... até porque certas coisas é melhor não mesmo escrever e permitir o silêncio tal como a distração dizer mais que aquilo que as palavras em determinado momento diz.

11 março 2007

Silêncio

E nos dias de chuva que a solidão se apresenta dá-me um alívio estranho. Foge a sensação que é do calor do Rio de Janeiro, daquele que no outro lado da calçada visualizamos a estátua com pequenos movimentos a dançar mediada pelo vapor quente, que se encontra um amigo com quem em uma pequena mesa de bar tem lugar boas risadas e conversas estimulantes que ficarão na memória por muito tempo pelo companheirismo da boemia em comum. Foge esta sensação por não lembrar da mesma amizade em dia de chuva - água que por mais poluída seja não chegou ao ponto de corroer-nos e ainda assim limpa algumas das sujeiras dos dias quentes, como alguns sorrisos amarelos e quase lânguidos dos dias de sol – e me aparece a triste solidão não pela gripe do amigo doente e sim porque não sei onde moram, não me foi dado e convidado a seu endereço... sei sua marca de cerveja preferida, sei que detesta chocolate, mas não sei onde moram e nunca falei com pessoas que moram com ele e que teoricamente o conhecem meu amigo melhor que eu.
O meu alívio é que nos dias de chuva ele está com tanta pressa, evitando se molhar, que não cogita a possibilidade de parar para conversar, isso de nada faz falta, nem ao menos o telefone aumenta a freqüência de toques e muito menos toca a campainha de minha casa... aquela que meu endereço dei na ocasião da festa de aniversário que ninguém foi porque estava chovendo.

08 janeiro 2007

Descobertas

Pego um cigarro, depois de meses nem lembrava mais do sabor, eu nem queria antes de ser oferecido e não subestimei minha vontade... a boca seca pede algo mais, compro uma cerveja e bebo. Existiam então dois sabores amargos e talvez estivesse eu amargo, um gosto doce poderia aliviar... ingenuidade... e registrada em fotografia...
Todos os dias sou desafiado a repetí-lo, desejo experimentar deste mesmo sabor, e um homem sensato se angustia pelas memórias de uma única noite que o deixa insano e perdido, substituindo dia após dia, como pode, aquele doce pelo amigo amargo.
Encena paixões, beija cópias platônicas e evitando o perigo fatal se estranha! Se fosse criança, talvez não fosse infantil, pois ao seu querer necessário, algo, aquilo que deseja não seria negado. Ironicamente às vezes se esquece, vai a busca de outros aromas, delicia-se em novidades casuais... mas fragmentos de lembrança pulsam extinguindo a passageira enganação, de satisfação com o temporário apetite, e como um gatilho qualquer a disparar se desperta, passa novamente a sonhar e sem saber qual é sua lucidez diz:
- Este homem, de quem digo, sou eu!?!?
A resposta é um silêncio que diz: - Vá!!!