"Minha realidade, este inverno, é feita de muitas coisas. Até isto: acordo de um cochilo. O avião aproxima-se de uma cidade. O sol se põe atrás de altas montanhas. Bem lá embaixo, as luzes se acendem em milhares de janelas e anúncios. Por um momento, não consigo lembrar para onde estou indo. As cidades se parecem tanto quanto os aviões que para elas me levam. É inquietante que o lugar para onde a pessoa vai tenha tão pouca importância. As mesmas mulheres e os mesmos homens estarão à espera junto às mesmas portas e exclamarão idênticas palavras de boas-vindas, quando me avistarem. Pessoas oferecendo flores e gentilezas, mas com uma pressa louca de me empurrarem para dentro de um carro e me levarem até algum hotel de luxo, no qual poderão abandonar-me e ir para casa, viver suas próprias vidas. Uma suíte com saleta e quarto, macias poltronas estofadas em seda, janelões que dão para uma piscina rodeada de palmeiras.Champanha e gelo, com os cumprimentos da gerência. Flores e cestas de frutas. O pessoal da portaria curvando-se, ao entrar e sair com minha bagagem, minhas cartas e meus recados telefônicos. Sorrisos e gentilezas e toda a irrealidade de que se revestem.Enquanto eu sorrio, entusiasticamente, e agradeço."(Trecho do livro "Mutações" de Liv Ullmann)
3 comentários:
Como se sentir incrivelmente só entre tantas e tantas pessoas tão "atenciosas"..
É um romance esse livro?
Bjos!
Nem é um romance, é difícil uma definição literária a ele. Talvez esteja mais para autobiografia, mas não é tbm fútil como uma autobiografia.
Que espetáculo.
Obrigada por ter me mostrado isso, neste momento. É bom quando a gente entende um texto por conseguir compará-lo com certas situações pelas quais passamos.
De certa forma, a gente sabe que a pessoa que escreveu, provavelmente, passou por algo parecido também.
Brigada, Dan.
Beijos
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