22 abril 2007

Singularidade

"...
Quando entrou no restaurante, sentou-se em seu lugar de costume e olhou para mim. Nossos olhos se encontraram. A próxima coisa que percebi foi ele soltando um grito incrível, que me gelou até os ossos, e a todos os presentes. Todos olharam para mim, com os olhos arregalados, alguns ainda com a boca cheia de comida. Obviamente eles pensaram que eu havia gritado. Eu já havia aberto um precedente quando soquei o balcão e ri alto. O homem pulou do banco e saiu correndo do restaurante, voltando-se para me olhar enquanto fazia gestos agitados com suas mãos sobre a cabeça.
Não resisti a um forte impulso e corri atrás do homem. Queria que ele me dissesse o que vira em mim para fazê-lo gritar. Alcancei-o no estacionamento e perguntei-lhe por que gritara. Cobriu os seus olhos e gritou novamente, ainda mais alto. Era como uma criança amedrontada por um pesadelo, gritando a plenos pulmões. Deixei-o e voltei ao restaurante.
- O que houve com você meu querido? - a garçonete perguntou com um ar preocupado. - pensei que tivesse saído correndo de mim.
- Apenas fui ver um amigo – disse eu.
- Aquele cara é seu amigo? – perguntou ela.
- O único amigo que tenho no mundo – disse, e era verdade, se eu pudesse definir “amigo” como alguém que vê através da aparência, da camada superficial que cobre você, e sabe de onde você realmente vem."


Trecho do livro "O Lado Ativo do Infinito" de Carlos Castañeda

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