A afirmação pode parecer ingênua, ou mesmo redundante, no instante imediato que recebe a afirmação, mas não é se levando em conta que nem tudo permanece registrado ou lembrado.
Que temos todos nossa própria história, isto é cada vez mais falso. Alguns anos li Castañeda e achei muito interessante a atitude de apagar a história pessoal, hoje considero como banalidade apagar a história pessoal, pois os laços de uma pessoa com suas experiências é irrelevante ao homem social, consigo até imaginar o exemplo de alguém que nascido e criado em um lixão o quase completo desconhecimento com quais seus próximos odeia-o ou ama-o. A vida não é um simples resultado de elementos, mas os elementos permitem compor resultados, e se tratando de vida os resultados são sempre imprevisíveis porque, ao contrário que se possa dizer, o passado sempre volta.
Terminei de ler mais um livro de Marguerite Duras Olhos Azus, Cabelos Pretos, ao escrever esta linha percebo que já dizia do livro desde o início de minha postagem, apenas não havia dado-me conta disso. Pretendia dizer o quanto me surpreendi em saber que a autora havia morado próxima a Saigon e que sua mãe era professora primária, tal como a personagem de seu livro O Amante. Já era de meu conhecimento que Marguerite Duras seria uma autora que não simplesmente inventa uma obra com a impessoalidade, ler Marguerite Duras é ler Marguerite Duras, acontecimentos de sua vida são traduzidas em palavras nos seus livros, é um dos poucos exemplos que conheço de alguém conseguir tranformar algo rigorosamente pessoal em público¹. Raramente um vida de interesse público, o homem moderno parece se preocupar mais com "o que fulano tem" que o "de onde ele vem", substituir simplesmente a 1ª pela 2ª não chega a resolver qualquer coisa e sim trato aqui de observar como a impessoalidade é intronizada em nossa pessoalidade, pensamos geralmente o outro como impessoal e por isso sem história senão aquela que costumamos ler e principalmente gostamos de ler.
Tem autores que escrevem aquilo que leitores querem ler, fazem sucesso por não arriscar fazer o leitor expandir sua capacidade de criar significações da realidade, em detrimento atraí para uma representação cristalizada. Talvez a guerra entre humanos e robôs, que de Isaac Asimov foi amplamente adaptada por mais diversos autores, não venha a acontecer. A impressão é que os robôs já estão entre nós, importa muito seu custo X benefício e pouco importa a mão de obra que a produziu, desde que ela enquanto ferramenta dê a produtividade esperada. Dizem por aí que algumas pessoas tem defeito na fabricação, instalação de metilfenidato ou haloperidol ou fluoxetine periodica é recomendada com diversas indicações seu de uso estabelecerem funções normalizadas.
Fica como reflexão a introdução do filme Trainspotting², dizendo: "Escolha viver. Escolha um emprego. Escolha uma carreira. Escolha uma família. Escolha uma televisão enorme. Escolha lavadoras de roupa, carros, CD players e abridores de latas elétricos. Escolha boa saúde, colesterol baixo e plano dentário. Escolha uma hipoteca a juros fixos. Escolha sua primeira casa. Escolha seus amigos. Escolha roupas esporte e malas combinando. Escolha um terno numa variedade de tecidos. Escolha fazer consertos em casa e pensar na vida domingo de manhã. Escolha sentar-se no sofá e ficar vendo game shows chatos na TV enfiando porcaria na sua boca. Escolha apodrecer no final, beber num lar que envergonha os filhos egoístas que pôs no mundo para substituí-lo. Escolha o seu futuro. Escolha viver.".
1 - Nas palavras de Marguerite Duras "Não existe nada mais público que aquilo que é rigorosamente pessoal."
2 - Vale a pena fazer consideração aqui que o filme é adaptação de um livro homônimo.
2 comentários:
Dan, adorei esse pedaço: "A vida não é um simples resultado de elementos, mas os elementos permitem compor resultados, e se tratando de vida os resultados são sempre imprevisíveis porque, ao contrário que se possa dizer, o passado sempre volta".
Sobre o livro da Marguerite Duras, embora eu não o conheça e não saiba do que se trata a história, (seguindo o que tu falaste)acredito que sempre há um pouco da gente naquilo que é escrito por nós. Mas também acredito que, mesmo quando tentamos ser extremamente precisos sobre a nossa história, a realidade revelada é sempre apenas uma parte/ um ponto de vista da verdade, não a única verdade.
A impessoalidade introduzida em nossa pessoalidade já não seria algo pessoal? Que papo de louco.. hehe
OBS: O filme Trainspotting é um daqueles que eu ainda quero assistir...
Beijos!!
Aline, realmente eu acho muito difícil, em qualquer escrita, isentar de fluir algo de si, até porque é fruto de um ato criativo.
Quanto a questão de impessoalidade, faço menção a dificuldade de fazer uma pessoa sua própria história ter um sentido, sem apelar a comparação de um senso ao que seria uma verdadeira história. As nossas verdadeiras histórias geralmente acabam seladas na memória, narramos mui frequentemente aquilo que parece interessante narrar por causa do nosso enorme desejo de sermos compreendidos. Discurso é impessoal, já os encontros ou desencontros com ele nem sempre é.
Bjos
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