15 dezembro 2009
Motivos
Eis aqui a questão que parece lenga lenga de livro de auto-ajuda, misticismos frutos de opiáceos ou mero devaneio pós Descartes: Construimos pelo nosso saber uma prisão, sabendo vamos trilhando indefinidamente, sem considerar qualquer coisa que não sabe ou não achou necessário... ignorando que cada qual sabe coisas diferente e parecem comungar do mesmo saber. Não muito preciso, mas questão não é aqui de saber mais ou menos, questão é de como se sabe. Saber para não saber é a maior armadinha que se pode cair, armadilha que funciona muito bem. Não é bem questão de duvidar de tudo, mas de não ter verdade construída... tal como construímos tão facilmente a imagem de nossa inocência, nossos hábitos freqüentemente não nos faz criminosos... temos nossos motivos... motivos que ninguém mais entenderia.
25 outubro 2009
Televisão

Ainda que péssimas e vergonhosas, principalmente pela atuação de psicólogos sempre convidados a dar validade a matéria, ainda assim há seu lado interessante. Um profissional clínico de psicologia sabe, sem assistir ao Fantástico, se teve o programa abordou algum distúrbio por exemplo, pois consultórios ficam muito mais cheios. É interessante que a televisão quem providencia esta pessoa a procurar um psicólogo, um médico, nutricionista, etc.
No programa de ontem me chamou atenção uma matéria que discutia os males que as brigas dos pais fazem aos filhos, ao mesmo tempo se falava de providenciar um ambiente de verdade... paradoxo da hipocrisia! A criança que a televisão inventa é cada vez uma criança ignorante, alienada, irresponsável, incapaz e portanto deve ser protegida de todos os males, deve apenas vivenciar "coisas boas".
Não é preciso ser um gênio, nem ter doutorado em psicologia, basta ter a experiência de viver para saber que, apesar de nem tudo sabermos, sabemos suportar algo da dor quando temos alguma experiência de dor. Quem sempre protegido de todos os males, acaba incapaz de viver por si só, e mais que isso não sabe reconhecer o que lhe são males e bens... incapaz de saber se sofre ou não, querem muitas vezes que um profissional o diga se ele está sofrendo... muito adulto para contar com os pais para cuidar dele, mas com a televisão ele pode sempre contar.
31 julho 2009
releitura

30 julho 2009
Paris

Li esta sinopse quando busquei saber a respeito da '2ª Edição do Panorama do Cinema Francês no Brasil', que ocorreu de 16 a 25 de junho, e de imediato tive a curiosidade pelo filme. O porque minha curiosidade? - O fato ser sobre 'pessoas que aparentemente não tem nada de especial', mas diria também que por haver um personagem que a morte fez olhar para a vida. Pela sinopse apostei que seria o tipo de filme em que o espectador não é um inteiro voyeur, que seria um tipo de filme nos faz testemunha de algo tão verossímil a ponto de fazer-nos sair do cinema como alguém que dará continuidade a ele. E essa aposta estava certa? - 'Considero que sim!' - A cidade de Paris é a personagem principal do filme, e é uma deliciosa surpresa ver que um de seus personagens coadjuvantes é também espectador, a Paris que vemos é a que faz sentido a este espectador considerar a respeito da personagem principal e seus coadjuvantes, mas não é necessariamente a representação fiel do sentido que ele dá, pois ele mesmo espectador é um personagem e nós somos outros espectadores que não ele (mas já sem a neutralidade que acreditamos ter quando assistimos algo). É um filme que vale a pena assistir.
Direção:Cédric Klapisch
Roteiro:Cédric Klapisch
Elenco:Juliette Binoche, Romain Duris, Mélanie Laurent, Fabrice Luchini, François Cluzet
14 junho 2009
Mental

Em sua publicidade existem diferentes atrativos, basta fazer uma busca pela internet para descobrir notícias de que é um seriado rodado na Colômbia, ou que nele há uma personagem lésbica. Em sua sinopse: “Psiquiatra usa habilidade de penetrar na mente de seus pacientes para ver como eles pensam e cria métodos de tratamento muito pouco ortodoxos”.
O seriado pretende ser inovador havendo uma clara descentralização do tratamento na farmacologia para “outra coisa”, e nessa “outra coisa” é que o seriado ganha uma dimensão pobre daquilo que ousa retratar que é a utilização de métodos pouco convencionais de tratamento. É incrível que em uma hora de episódio seja possível ater-se a detalhes que possíveis fazer conhecer a forma de intervir no sofrimento mental dos seus pacientes e realizá-las, ao fazer isso coloca a loucura em uma lógica na qual qualquer um tem condições de compreender se tiver interesse e boa vontade de ajudar, de fazer o bem. Que o tratamento psiquiátrico deve conter alternativas outras que não apenas a farmacológica é afirmativamente uma aposta válida, e muito, no entanto não é apostando a veracidade de nossos próprios valores, tais como família, trabalho, amor, companheirismo, verdade, entre outros que se encontra o lugar da loucura em habitar fora de um hospital psiquiátrico. Se chamamos algo de louco é porque este encontra-se em um campo diferente aos valores sociais que compartilhamos, ou melhor, que achamos compartilhar. O amor de uma erotomaníaca é um exemplo de valor (amor) que para um ouvinte desavisado parece expressar o sentimento verdadeiro que daquilo que chamamos por amor, mas se para um ouvinte desavisado “parece” é porque antes de conhecer a história este ouvinte quer julgar se verdade ou não, enquanto na loucura procede como no slogan do filme Estamira, e que fala da própria: Tudo Que É Imaginário Tem, Existe, É.
Assistindo aos três episódios, que até então foram ao ar, fica uma sensação da medicina ser a única responsável por tratar esquizofrenia, como sendo irrelevante um tratamento interdisciplinar, e mais que isso, parece que tratar da loucura é tratar apenas do louco, isso equivale dizer que nada do social é de comprometimento com a loucura.
É considerável dar uma chance ao seriado mostrar-se menos ingênuo, até agora pouca coisa nele apareceu que condiz com a realidade dos tratamentos psiquiátricos que não manicomiais, o seriado faz parecer que o sistema de tratamento em saúde mental nos EUA está extremamente atrasado, pelo menos essa é a consideração que alguém com experiência em saúde mental tem ao assistindo a série
13 maio 2009
08 março 2009
reflexões...
"Aqui estou eu sentada,com meus pensamentos me conduzindo pelo mundo afora e também para dentro de mim mesma, enquanto tento registrar no papel esta viagem.
Quero escrever sobre o amor - sobre o ser humano - sobre solidão - sobre ser mulher.
Quero escrever sobre um encontro, numa ilha. Um homem que muldou minha vida.
Quero escrever sobre uma mutação que foi acidental e uma outra, deliberada.
Quero escrever sobre momentos que considero dádivas, bons momentos, e os maus momentos.
Não creio que minha parcela de conhecimentos ou de experiência seja maior do que a de qualquer outra pessoa.
Realizei um sonho - e tive mais dez, em lugar dele. Vi o outro lado de uma coisa cintilante.
Não é a respeito da Liv Ullmann que as pessoas encontram nas revistas e jornais que estarei escrevendo. Algumas podem pensar que omiti fatos importantes a respeito de minha vida, mas nunca foi minha intenção fazer uma autobiografia.
Ironicamente, minha profissão requer uma exibição diária de corpo, rosto e emoções. Agora sinto que estou com medo de me revelar. Com medo de que, pondo as coisas no papel, eu fique vulnerável, não seja mais capaz de me defender.
Sinto a tentação de fantasiar, fazer com que eu mesma, e meu ambiente, pareçam agradáveis,a fim de conquistar a simpatia do leitor. Ou de dramatizar as coisas para torná-las mais excitantes.
É como se eu não estivesse convencida de que a realidade em si tem algum interesse.
"Existe uma menina em mim que se recusa a morrer", escreveu a autora dinamarquesa Tove Ditlevsen.
Eu vivo, me alegro, sofro, e estou sempre lutando para me tornar adulta. Mas todo dia, porque alguma coisa que eu faço a afeta, eu ouço a voz da menina, lá dentro de mim. Ela, que há tantos anos era eu. Ou quem eu pensava que era.
Sua voz é ansiosa, quase sempre de protesto, embora algumas vezes débil e cheia de expectativa e angústia. Não quero prestar-lhe atenção, porque sei que nada tem a ver com minha vida adulta. Mas a voz me deixa insegura.
Às vezes, acordo com vontade de viver a sua vida, assumir um papel diferente daquele que é o meu cotidiano. Eu me aconchego à minha filha ainda adormecida, sinto sua respiração cálida e tranqüila, e tenho a esperança de, atráves dela, poder tornar-me o que desejei ser.
Examinando retrospectivamente o que lembro dos meus sonhos de infância, vejo que se parecem com muitos que ainda lembro, mas não vivo mais como se eles fossem parte da realidade.
Ela, que está em mim e "se recusa a morrer", ainda espera algo diferente. Nenhum sucesso a satisfaz, nenhuma felicidade a acalma.
O tempo todo estou tentando modificar-me. Pois sei que existem outras coisas bem diferentes daquelas que conheci. Gostaria de caminhar para isso. Encontrar a paz, de maneira a poder parar e escutar o que está dentro de mim, sem nenhuma influência."
25 janeiro 2009
Amor
Extraído de : Fragmentos de um discurso amoroso - Roland Barthes
23 janeiro 2009
CACHAÇA CINEMA CLUBE (jan/2009)
Homenagem a Fernando Coni Campos
O Cachaça Cinema Clube começa o ano de 2009 com uma sessão especial em homenagem ao grande diretor Fernando Coni Campos. Autor de clássicos como Ladrões de Cinema e O Mágico e o delegado, Coni Campos construiu uma obra cheia de nuances sem jamais negar o popular. Transitou com desenvoltura entre o maldito, o marginal e o fabuloso e criou obras representativas que fazem um uso bem pessoal das imagens.
Serão exibidas três obras representativas de sua produção como curta-metragista, obras nos quais Coni estabelece relações com as artes plásticas. Tarsila, 50 anos de pintura; Cláudio Tozzi - filmes de enfoque documental-; e Do grotesco ao arabesco, que possui uma abordagem poética sobre as gravuras de Newton Cavalcanti.
O cineclube aproveita a ocasião para apresentar também outros diretores importantes do cinema baiano, promovendo dessa forma um encontro de gerações e estilos.
Curtas como Mr.Abrakadabra!, de 1996, dirigido por José Araripe Jr. e bastante premiado mundo afora, divide a noite com filmes mais recentes como Sensações contrárias, de 2007, de Amadeu Alban, Jorge Alencar e Matheus Rocha – vídeo-dança que extrapola os limites do gênero e que se afirma como obra audiovisual independente -; e Cães, de Adler Paz e Moacyr Gramacho - vencedor do prêmio de Melhor Curta-Metragem 35mm no 41º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, realizado ano passado.
Para completar a homenagem e fechar a sessão com chave de ouro teremos um show de Rubinho e Força Bruta, banda liderada pelo instrumentista, cantor e compositor Rubinho Jacobina, filho de Fernando Coni Campos.
Rubinho e Força Bruta, grupo que conta ainda com Pedro Sá no baixo, Bartolo e Bubu nas guitarras e Domenico Lanceloti na bateria, lançou recentemente um disco que recebeu o Prêmio Revelação de Música Popular, concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. Algumas faixas do disco, que possui o nome da banda, podem ser ouvidas no endereço: www.myspace.com/rubinhojacobina.
Esperamos que o público estabeleça, nessa pequena homenagem, um belo encontro com um dos diretores mais importantes do cinema brasileiro, e também com o cinema baiano, que nos legou tantos bons diretores.
Destaque
Muito pouco exibidos, os filmes escolhidos demonstram a ligação de Coni Campos com o universo da gravura e do desenho, atividades das quais o cineasta se aproximou no início da carreira e abordou em diversos curtas metragens.
A sessão:
Mr. Abrakadabra, de José Araripe Jr., 1996, 13'
Velho mágico não consegue mais fazer seus truques com a perfeição que gostaria. Triste e sem esperanças, resolve tentar o suicídio. Além dos Prêmios de Melhor Ator para Jofre Soares no Cine Ceará e Festival de Brasília, o curta também recebeu prêmios de Direção de Arte, Fotografia e Melhor Curta no Festival de Brasília.
Sensações contrárias, de Amadeu Alban, Jorge Alencar e Matheus Rocha, 2007, 6'
Vídeo-dança selecionado pelo projeto Rumos Itaú Cultural Dança 2006, Sensações contrárias quebrou com as amarras de gênero e foi exibido com sucesso em festivais de cinema e curtas, tendo inclusive recebido prêmio de Melhor Vídeo Experimental no Gramado Cine Vídeo de 2007.
Cães, de Adler Paz e Moacyr Gramacho, 2008, 16'
Reflexão sobre o coronelismo e o sistema fundiário do interior da Bahia; tentativa de estabelecer as raízes do povo sertanejo. Prêmio de Melhor Curta-Metragem 35mm no Festival de Brasília de 2008 e estréia no Rio de Janeiro.
Do grotesco ao arabesco, de Fernando Coni Campos, 1968, 10'
Usando gravuras do artista plástico Newton Cavalcanti, parceiro na criação desse curta, Fernando Coni Campos recria poeticamente o universo ficcional de Edgar Allan Poe.
Tarsila, 50 anos de pintura, de Fernando Coni Campos, 1970, 10'
Curta co-dirigido por David Neves. Documentário sobre Tarsila do Amaral e sua exposição Tarsila – 50 anos de pintura, realizada no MAM e no MAC em 1969.
Cláudio Tozzi, de Fernando Coni Campos, 1981, 10'
Documentário sobre o artista plástico Claudio Tozzi e sua carreira.
Após a sessão teremos a tradicional degustação de cachaça e a variada e instigante sonorização de DJ H.
O Cachaça Cinema Clube conta com o apoio do Cinema Odeon Petrobras e do Boteco Belmonte.
Cachaça Cinema Clube
Dia 28 de janeiro de 2009.
Contato
contato@cachacacinemaclube.com.br