Daí ela diz:
- Deixe a coisa ficar mais séria.
Estive só um tempo mas nunca vivi sozinha. Quando estava com alguém se sentia feliz.
[silêncio]
Mas ao mesmo tempo tudo parecia ser coincidência. Essas pessoas eram meus pais mas poderiam ter sido outras. Porque este rapaz de olhos marrons é meu irmão e não aquele de olhos verdes no outro lado da plataforma? A filha do motorista de taxi era minha amiga. Mas poderia ter perfeitamente colocado meu braço em torno do pescoço de um cavalo.
Estive com um homem enamorada. Poderia tê-lo deixado de lado e partido com um estranho.
Olhe para mim ou não.
Me dê sua mão ou não.
Não me dê sua mão.
Olhe para lá.
Hoje é noite de lua nova, que noite de paz...
... sem derrame de sangue na cidade.
Nunca brinquei com alguém. Nunca abri meus olhos e disse: Agora é sério. Cresci. Era o único que não era sério? Os nossos tempos é que não são sérios.
Nunca estive só, nem sozinha, nem com outros. Gostaria de ficar só. Solidão significa: Finalmente sou um todo.
Agora posso afirmá-lo, pois finalmente estou só. Tenho que parar com as coincidências.
[suspiro]
A lua nova das decisões.
Não sei se existe destino, mas aqui está uma decisão!
Decida!
Nós agora somos o tempo.
Não só toda a cidade, mas o mundo todo está tomando parte da nossa decisão.
Nós somos mais que dois.
Encarnamos algo. Estamos no lugar dos outros e tudo está cheio de gente que está sonhando o mesmo sonho. Estamos decidindo o jogo dos outros!
Estou pronta!
Agora é sua vez.
Pegue o jogo em suas mãos.
Agora ou nunca!
Você precisa de mim!
Você vai precisar de mim!
Não existe história maior que a nossa...
... a de um homem e uma mulher.
Será uma uma história de gigantes. Invisível, transponível. A história de novos ancestrais.
Veja, meus olhos são o retrato da necessidade do futuro de cada um no lugar.
Ontem a noite sonhei com um estranho...
... com meu homem.
Só com ele posso ficar a sós... me abrir para ele. Recebê-lo inteiramente. Envolvê-lo num labirinto de felicidade a dois.
Sei que é você.
(Fala transcrita do filme "Asas do desejo" de Wim Wenders de 1987)