08 março 2009

reflexões...

Tenho andado afastado dos livros de faculdade, de teorias sobre a vida... encontrado em músicas, alguns livros, algumas conversas, e experiências próprias desta tarefa que é viver tendo como alucinação suportar o dia-a-dia... ter delírios com coisas reais, como diz o trecho de uma música. Passagens como, por exemplo, o trecho abaixo fazem sentido hoje. Vejo nelas aquilo que uma teoria não dá conta, não pela teoria ser errada, mas porque a vida é bem mais que teoria. Viver não é ser consciente, nem mesmo ser ignorante, apenas questão de não se prender às expectativas em relação a vida como que pode controlar o presente e fazer pela simples vontade o futuros sem desilusões...

"Aqui estou eu sentada,com meus pensamentos me conduzindo pelo mundo afora e também para dentro de mim mesma, enquanto tento registrar no papel esta viagem.
Quero escrever sobre o amor - sobre o ser humano - sobre solidão - sobre ser mulher.
Quero escrever sobre um encontro, numa ilha. Um homem que muldou minha vida.
Quero escrever sobre uma mutação que foi acidental e uma outra, deliberada.
Quero escrever sobre momentos que considero dádivas, bons momentos, e os maus momentos.
Não creio que minha parcela de conhecimentos ou de experiência seja maior do que a de qualquer outra pessoa.
Realizei um sonho - e tive mais dez, em lugar dele. Vi o outro lado de uma coisa cintilante.
Não é a respeito da Liv Ullmann que as pessoas encontram nas revistas e jornais que estarei escrevendo. Algumas podem pensar que omiti fatos importantes a respeito de minha vida, mas nunca foi minha intenção fazer uma autobiografia.
Ironicamente, minha profissão requer uma exibição diária de corpo, rosto e emoções. Agora sinto que estou com medo de me revelar. Com medo de que, pondo as coisas no papel, eu fique vulnerável, não seja mais capaz de me defender.
Sinto a tentação de fantasiar, fazer com que eu mesma, e meu ambiente, pareçam agradáveis,a fim de conquistar a simpatia do leitor. Ou de dramatizar as coisas para torná-las mais excitantes.
É como se eu não estivesse convencida de que a realidade em si tem algum interesse.

"Existe uma menina em mim que se recusa a morrer", escreveu a autora dinamarquesa Tove Ditlevsen.
Eu vivo, me alegro, sofro, e estou sempre lutando para me tornar adulta. Mas todo dia, porque alguma coisa que eu faço a afeta, eu ouço a voz da menina, lá dentro de mim. Ela, que há tantos anos era eu. Ou quem eu pensava que era.
Sua voz é ansiosa, quase sempre de protesto, embora algumas vezes débil e cheia de expectativa e angústia. Não quero prestar-lhe atenção, porque sei que nada tem a ver com minha vida adulta. Mas a voz me deixa insegura.
Às vezes, acordo com vontade de viver a sua vida, assumir um papel diferente daquele que é o meu cotidiano. Eu me aconchego à minha filha ainda adormecida, sinto sua respiração cálida e tranqüila, e tenho a esperança de, atráves dela, poder tornar-me o que desejei ser.
Examinando retrospectivamente o que lembro dos meus sonhos de infância, vejo que se parecem com muitos que ainda lembro, mas não vivo mais como se eles fossem parte da realidade.
Ela, que está em mim e "se recusa a morrer", ainda espera algo diferente. Nenhum sucesso a satisfaz, nenhuma felicidade a acalma.
O tempo todo estou tentando modificar-me. Pois sei que existem outras coisas bem diferentes daquelas que conheci. Gostaria de caminhar para isso. Encontrar a paz, de maneira a poder parar e escutar o que está dentro de mim, sem nenhuma influência."

Trecho de Mutações - Liv Ullmann